A Guerra pelo controle do jogo do bicho, e por R$ 768 milhões anuais, viveu mais um capítulo no atentado contra Rogério Andrade, ocorrido na semana passada, quando o carro em que o bicheiro viajava, com o filho de 17 anos, explodiu em plena Barra da Tijuca.
A história da família Andrade tem origem na década de 1940, com a primeira geração, formada pela viúva Eurídice e o marido de sua filha Carmem, Euzébio Andrade. Com a morte do marido, Carmem entrega a administração do jogo do bicho ao filho Castor de Andrade, então, com 32 anos.
Na década de 1980, com o jogo do bicho entrando em declínio, os contraventores dão início a um novo mercado: Os jogos eletrônicos de azar. O famoso capo do jogo do bicho, Castor de Andrade, inaugura, extra oficialmente, um Cassino de Vídeo Pôquer, localizado em bairro da zona oeste, à beira da Avenida Brasil.
Nesta mesma década, Castor de Andrade, de estilo elegante e extremamente vaidoso, é cotidianamente visto nas páginas dos principais jornais cariocas. Ora em matérias policiais, ora, esportivas. Fase em que se dedicou ao futebol do pacato time , do bairro de Moça Bonita, Bangú Atlético Clube, vice campeão carioca e brasileiro de 1985.
Na segunda metade da década de 1980 a juíza Denise Frossard inicia uma cassada aos bicheiros Anísio Abraão David, Capitão Guimarães, Castor de Andrade e outros. Em meio a investigações, Castor de Andrade, tem estourado, pela polícia, seu cassino de jogos de vídeo pôquer, construído, clandestinamente, em bairro da zona oeste, as margens da Avenida Brasil.
Em 1988, ano comemorativo ao Centenário da Libertação dos Escravos, a Rede Globo de televisão estréia a novela Mandala, onde o personagem Toni Carrado, banqueiro de bicho, interpretado pelo ator Nuno Leal Maia, é um contraventor apaixonado por Jocasta, personagem vivida pela atriz Vera Fisher. O bicheiro da novela é um indivíduo ingênuo, de gosto duvidoso, perseguido pela justiça brasileira. Nos últimos capítulos decide abandonar o país, levando consigo sua “Deusa” Jocasta. Em enquete promovida por jornais da época o público era incentivado a votar se o contraventor merecia conquistar Jocasta e viver um final feliz.
Na semana do último capítulo da novela Mandala o, então, aluno de jornalismo da Faculdade da Cidade, o repórter fotográfico Paulo Toscano, de posse do telefone residencial do banqueiro de bicho Castor de Andrade, faz uma ligação para o contraventor. O objetivo era marcar uma entrevista. O diálogo ao telefone se deu da seguinte forma:
_ Alô, quem fala? Atendeu alguém na residência do bicheiro.
_Bom dia, gostaria de falar com o doutor Castor de Andrade... Falou o jornalista.
_Quem gostaria? Perguntou o desconhecido.
_ Paulo Toscano. Respondeu.
_Um minuto, por favor. Disse o interlocutor.
_Pois não, é o doutor Castor. O que deseja? Questiona o contraventor.
_Bom dia doutor. Quem fala é o jornalista Paulo Toscano, gostaria de entrevistá-lo. Haveria possibilidade? Perguntou cético.
_Infelizmente, não posso atendê-lo, pois a imprensa, hoje, vive uma fase sensacionalista. Querem, apenas, abordar as questões que envolvem o vídeo pôquer. Sentenciou com muita objetividade, o contraventor.
_Se o senhor não quiser falar sobre isso, não tem problema. Podemos falar somente de carnaval e, também, sobre o Bangú... Interrompeu, o jornalista, tentando convencer.
_Sendo assim, senhor Paulo Toscano, podemos marcar para quarta-feira às 10 horas. Anote o endereço: Rua da Assembléia, 10, No Centro.
Veja como foi a entrevista completa a um dos maiores banqueiros de bicho, publicado em maio de 1988, pelos jornais A Folha de São Paulo e A Tribuna de Niterói, no mais novo Link "Histórias do Autor", por Paulo Toscano.