Funcionário da Viação 1001, Alexandre Borja, já caminhava há mais de nove horas quando aceitou a carona que ofereci, faltando, apenas, três quilômetros para chegar em casa. A estrada que liga os distritos de Lumiar e São Pedro da Serra era o último trecho da longa jornada, que se iniciou em Duas Pedras e passou pelo centro de Nova Friburgo. Depois, Mury, Stucky, Vargem Alta e Santiago. Exausto, assustado e sujo de lama, o estudante de comunicação contou o que viu durante todo o trajeto:
“De terça para quarta-feira, dormi na empresa, em dormitório do segundo andar do alojamento. Da janela fotografei, com o celular, os ônibus sendo afogados pelo aguaceiro que se formou rapidamente. Na garagem, entre as perdas, um ônibus, recém adquirido pela 1001, ficou totalmente submerso. No dia seguinte, quando diminuiu o nível do rio, que transbordara com a tempestade, resolvi voltar, à pé, para a casa, sem saber do que havia acontecido com a cidade.”
“Vi muitas pessoas chorando desesperadas. Essas cenas, por respeito, não fotografei. Como, também, não consegui registrar pessoas colocando três corpos de parentes em uma Kombi. Durante todo o trajeto, até o centro de Nova Friburgo, vi corpos em meio à destruição. No centro, o desabamento de metade de um prédio me deixou atônito, pois via moradores gritando e chorando suas perdas.”
“Quando cheguei em Mury, já havia caminhado mais de 15 quilômetros e não tinha idéia dos obstáculos que enfrentaria. Tive que superar mais de 10 enormes desbarrancamentos até alcançar Lumiar. No Stucky, fiquei sabendo que mais de 15 pessoas foram soterradas. Seis quilômetros adiante, no distrito de Vargem Alta, mais uma informação trágica: Três pessoas da mesma família estavam sob escombros e lama.”
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